Moto é um meio de transporte perigoso e, infelizmente,
poucos têm consciência disso, mas não vamos filosofar e sim contar histórias,
certo? E esse post é sobre minha época de motoqueiro. Como já disse, minha mãe
tinha muito orgulho dos seus filhos, que ela chamava de “minha ninhada“ e
quando eles ficaram adultos sempre dizia, “todos criados, todos vivo!”. Somos sete homens e
uma menina, mas a rapaziada já deu trabalho, hoje, não, estão velhos e caquéticos como eu, mas houve um período que vários compraram motos ao mesmo tempo. Era outra época e nós éramos
caretas, não como essa molecada de hoje, que andam numa roda só, fazem piruetas
e andam em grande velocidade, nós usávamos para ir e vir, somente isso, visto que trabalhávamos e estudávamos, mas mesmo assim coisas aconteciam. Minha primeira moto foi uma
CG 125 usada, muito usada, há de ser registrado. A porcaria só fazia barulho,
pois eu não tinha grana pra comprar um cano de descarga, mas andar mesmo era outra
coisa. Levava minha namorada em casa com a moto em ponto morto e o motor
desligado, só ligava na hora de sair e era um barulho dos infernos! Acordava
toda a vizinhança, mas as coisas foram melhorando, comecei a trabalhar e
comprei uma Lambreta, ou Vespa, como se chamava à época. Ô motinha gostosa, até
hoje tenho saudades, a usava para trabalhar e estudar, era muito legal. Como
ela tem uma saia na frente era uma aventura atravessar a ponte Rio Niterói quando ventava muito. O vento batia naquela frente a Vespa balançava e
sacodia como um cavalo xucro, uma loucura domar aquela coisa no meio da Ponte,
sacudindo como um saco, aí eu descobri uma maneira de vencer tanta turbulência:
andar no vácuo dos ônibus. Assim lá ia eu, a poucos centímetros dos grandes
ônibus, longe da turbulência dos ventos, mas perto da morte, pois bastava um
movimento do ônibus e eu entrava na traseira dele. Com ela fui tentar ensinar a
minha futura esposa a andar e foi uma experiência única (ela nunca mais tentou,
não sei porquê). A levei para uma rua sem asfalto para ir se acostumando e
aprendendo, íamos devagar, afinal ela não tinha experiência, quando surgiu um
caminhão betoneira vindo em nossa direção. Até aí tudo bem, existem muitos
caminhões nesse mundo, o problema é que ele resolveu, do nada, entrar à sua
esquerda e, por coincidência, correspondia a ser na frente da lambreta pilotada
toscamente por ela. Quando aquela jamanta enorme atravessou na nossa frente a
poucos metros ela, jogando uma grande quantidade de poeira, ela se apavorou e
nos escafedemos no chão. Foi um tombo bacana e minha moto novinha toda
arranhada, mas nada de grave aconteceu. Consertei a Vespinha e então foi a minha vez: vinha eu na Avenida Rio Branco, no meio dos ônibus e carros, lógico, quando um
pedestre resolver atravessar, sem respeitar o sinal. Foi muito rápido, um
pancadão, peguei o cara de frente, voei e fui ralando pelo asfalto. Ia eu na
frente, na inércia, e olhando para trás, vendo a vespa também ralando atrás de
mim e eu preocupado dela me atropelar, mas ela foi indo para a sarjeta e eu me
mantive no meio da Avenida. Correu tudo bem, só quebrei o pé, afinal usava tudo
que tinha direito, capacete, casaco de couro, calça grossa etc. O casaco ralou
todo (antes ele do que eu. hehe) e a vespa também e fui, se é que posso usar essa
palavra, “evoluindo” para motos maiores. Comprei uma XLX 250, que curti muito
com minha namorada, indo e vindo para tudo quanto era lugar, mas era difícil,
ela dormia na garupa e eu tinha de ficar dando cotoveladas para acordar, complicado...!
E depois comprei uma CB 400, minha última moto, um motocão, grande e pesada. Um
final de tarde, vinha eu na Ponte, a mesma do cavalo xucro, entre os carros,
como tem de ser, sem correr muito, 80 km/h. Eu era um piloto constante, com o
trânsito parado, andando ou lento, eu sempre andava a 80. Como dizia, vinha eu
na minha velocidade de cruzeiro, quando um Passat, carro de luxo da época,
resolveu sair da sua fila e tentar a sorte em outra. Não foi boa ideia, eu que
vinha na minha fui abalroado e jogado pra cima. Lá ia eu de novo, eu na frente,
moto atrás querendo me atropelar. Fui ralando, de novo, até a inércia acabar e
fiquei sentado no asfalto. Vieram me ajudar e eu falei, “estou bem, me deixe um
pouco aqui”. E fiquei eu, sentado no meio do asfalto em plena Ponte Rio Niterói.
Depois de alguns minutos pedi para me ajudarem a levantar a moto, desamassei o guidom
e fui pra casa. Nunca mais subi numa moto.
Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
26 fevereiro 2012
04 fevereiro 2012
Short Story XXVII - Pindamonhangaba 2
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