20 janeiro 2006

Salvos pela Graça, mas não de graça. (parte III)

(Continuação, parte III. Leia a 1ª e 2ª parte antes)

Mas afinal, o que é Graça? Não pretendo reinventar a roda e repetirei a tradicional definição, Graça é favor imerecido. Somos salvos pela Graça de Deus, pela sua misericórdia, pelo seu amor que e temos pouco controle sobre este fato. Sei que serei atacado com muitas referências bíblicas combatendo o que acabei de colocar como se confessares com sua boca será salvo
[i], que crer será salvo[ii], e muitas outras, centenas, que também conheço, mas sei também que o conhecimento destas passagens não irá me salvar e não me fará ter a Graça de Deus em minha vida.

Alcançar a Graça de Deus não tem a haver com chavões bíblicos ou versículos que são repetidos a exaustão, ter a Graça de Deus é uma experiência pessoal que se dará no molde de cada um, personalizado, que poderá ser um momento de grande júbilo ou alegria, mas também poderá ser um parto difícil e doloroso. Como a Graça irá operar em nós dependerá exclusivamente de Deus, ele concederá como ele quiser e a quem ele quiser. Deus não vai olhar para sua aparência física, seus lindos olhos azuis ou negros, as linhas harmônicas do seu rosto ou a sua feiúra e defeitos físicos e se compadecer. Não vai olhar para a pessoa boa que você se esforça para ser, não. Deus vai olhar para a essência do seu ser, para o que costumamos chamar de coração, para a pessoa que usa este corpo feio ou bonito, saudável ou doente, Deus vai se agradar ou não do seu coração, da pessoa que você é.

Como coloquei, para uns será uma grande festa. Eles verão raios e trovões, lindas visões do céu com belíssima paisagem, um enlevo espiritual. Serão salvos pela Graça quando estiverem fazendo algo de muito bom ou até roubando, matando ou usando drogas. Outros encontrarão a Deus enquanto houve um lindo hino de louvor, sentirão a presença do Senhor e serão salvos pela Graça, mas enquanto é isso... muitos clamarão e gritarão a Deus para serem salvos, gemerão, se mutilarão, se agarrarão às promessas e mesmo assim não encontrarão a Graça de Deus. Deus vai dar a sua Graça quando ele achar que deverá ser dada, quando ver um coração que o ama, que o deseja, que o quer, que tem prazer nele, que confia nele, que deseja estar perto dele, que quer conhecê-lo pessoalmente, que entende que nada podem fazer e que nada mais resta que confiar em Deus e esperar nele. Estes para mim são dignos de pena, pois sofrerão muito até entenderem o que é a graça de Deus, mas estes também são os que têm a melhor compreensão do que é a Graça, pois sentiram o quão miserável são e quão nada não, o quão pobre e nu
[iii] são e o como ele se transforma ao ter o encontro com a Graça de Deus.

Claro que perceberam, pela descrição detalhada, que eu faço parte do segundo grupo. Pela minha arrogância, presunção, orgulho e auto confiança, sofri e muito para receber a Graça de Deus em minha vida. Fui jogado no mais fundo poço, cheio de lama, lacraias e escorpiões até entender o que significava ser salvo, imerecidamente, por Deus. O quão miserável eu era e mesmo assim a misericórdia de Deus operou, pela Graça, em minha vida. Mesmo assim não tenho inveja dos que alcançaram a Graça mais facilmente, nem triste por sido massacrado tanto para poder receber a Graça e ver o quão mau eu era e o quão bom Deus foi comigo, ao ter misericórdia de mim. Passou a ter um valor especial.


[i] Rm 10.9
[ii] Jo 3.16
[iii] Ap 3.17


19 janeiro 2006

Salvos pela Graça, mas não de graça. (parte II)

(Continuação. Leia a 1ª parte antes)

Sei que estes poucos parágrafos já estão atiçando a imaginação de quem os está lendo, mas vamos continuar um pouco mais conversando sobre este assunto e dê a sua participação.

Voltando ao nosso texto, nós vemos que, a não compreensão do que é o cristianismo, vem dos dois lados: dos cristãos e dos não cristãos. Ambos têm visões divergentes, e até convergentes sobre este assunto. Os não cristãos vêm o cristianismo como a religião dominante da civilização político ocidental, que luta pelo seu espaço com as demais religiões (concorrência) e é até aceita e toleradas, sincretismo religioso, como o candomblé, espiritismo, maçonaria etc. O vê apenas como mais uma, tem o seu valor, “como as outras”. Também os cristãos não compreendem o verdadeiro sentido do cristianismo e têm uma visão da Graça incompleta, uma Graça barata, depreciada e sem valor. Tenho mais pena dos cristãos, pois eles acreditam que estão no caminho certo, mas terão o mesmo destino dos outros, pois não compreendem a Graça e seu valor exato.

A Graça depreciada, sem valor, é a graça que a maioria dos cristãos professam, pensam que serão salvos pelo seu trabalho na igreja, isso é quase um vício para muitos. Acreditam que por trabalharem para a causa do Mestre serão salvos. Estão participam de eventos, cantam em corais, estão colaborando em obras sociais, dão o dízimo de tudo de ganham e estão sempre prontos a colaborarem no que forem chamados. Alguns valorizam estas atividades mais do que a si mesmo ou as suas famílias e muitas vezes pessoas adoecem de tanto fazer ou famílias são destruídas por pessoas muito bem intencionadas, mas que estão perdendo tempo e dinheiro.

Não estou querendo dizer que estas coisas não têm valor, tem e tem muito valor, mas ela não é suficiente para levar ninguém para o céu, lembra do trapo de imundícia? Como cristãos verdadeiros temos a obrigação de fazer todas as coisas boas do mundo, mas o fato de faze-lo não nos tornará purificado de nossos pecados.

Na linha da Graça barata, vemos também cristão que levam uma vida sem nenhum compromisso com Deus ou com ou homens dizendo que nada do que fazem tem valor. Que somos salvos pela Graça, que ele é um zero a esquerda e que não pode mudar sua natureza. Assim estão na igreja, se dizem Cristãos salvos pela Graça, mas na verdade levam uma vida separada da presença de Deus, pois nunca O conheceu, nunca tiverem um encontro real com Deus
[i]. Graça barata, Graça sem valor, Graça pisada pelos ditos cristãos que não compreendem a mistério da salvação, se apegam a conhecimentos e idéias humanas e que não chegaram à plenitude do conhecimento.

Resumindo temos dois tipos de visões, a dos não cristãos, que consideram o cristianismo mais uma religião e a dos cristãos que não sabem em que crêem. Que vivem uma Graça barata, com um bonito culto, muitas vezes emocionante, com muitos mandamentos e ordens a serem obedecidas, mas sem viverem a Graça salvadora em suas vidas. Ambos não são salvos.

(continua)


[i] Mt 7.23

18 janeiro 2006

Salvos pela Graça, mas não de graça. (Parte I)


Como agora tenho trabalho, ainda não o considero emprego, utilizarei este espaço para publicar alguns posts diferentes, com temas que gostaria de compartilhar com meu leitor, eu mesmo, e com quem goste ou venha acidentalmente ler este espaço. Cabe ressaltar que o que lerão serão a minha opinião e que seus comentários serão muito, muito bem vindos.

O Cristianismo está completando 2000 anos e hoje, como sempre, é muito, muito comentado, atacado, defendido e discutido, mas pouco, pouquíssimo compreendido pelos cristãos, que diremos então dos não cristãos? Quando nós estudamos a essência do cristianismo chegamos à conclusão que ele não pode ser classificado como uma religião, apesar de ser o quando visto do ponto de visto de crença religiosa, porque nada do que nós mesmos venhamos a fazer tem algum valor ou possa ser utilizado para nossa salvação. Não somos salvos pelo que fazemos ou deixamos de fazer, mas sim por uma pequena palavra, mas de grande profundidade, Graça. Não pode ser classificado de religião, religare
[i], pois não existem mandamentos, ordens ou qualquer instrução que venhamos a cumprir para assim nos tornarmos um “religioso” verdadeiro.

O Cristianismo ensina que somos salvos pela Graça e isso não é dom de vós
[ii]. O que isso significa? Que somos salvos não pelo que fazemos ou somos, somos salvos pela Graça de Deus, ou seja, somos salvos sem o merecer, somos salvos porque ele quis, somos salvos porque ele teve misericórdia de nós, somos salvos porque ele nos amou primeiro sem nada fazermos para merecer este amor, somos salvos porque nos deu a fé salvadora, ou seja, não somos salvos pelas boas coisas que fazemos, pela ajuda aos leprosos ou necessitados, não somos salvos porque nos esforçamos e sangramos e procurando seguir diligentemente mandamentos duros e difíceis de cumprir, não somos salvos por repetir orações, jejuns longuíssimo ou sacrifícios. Resumindo: não somos salvos porque somos boas pessoas, mas sim salvos apesar de não ser. Mais do que isso, a Bíblia também reduz a importância de tudo que descrevi, do que somos ou fazemos, dizendo que o nosso melhor, ressalto, o nosso melhor, o que temos de mais valioso dentro de nós ou possamos fazer, é como trapo de imundícia[iii]. Como podemos dizer que o Cristianismo é uma religião se o nosso melhor é considerado o pano que as mulheres do oriente usavam para reter sangramento da menstruação?

Este é um mistério que não podemos compreender com nossas mentes e inteligência, não está no nível da compreensão humana, e se tentarmos por esta via será impossível compreende-lo. A revelação do projeto de Deus para o homem é resultado direto da atuação do Espírito Santo em nossas vidas e nós pouco podemos fazer
, não temos controle sobre esta atuação e ela vai operar da forma e do jeito que Deus determinar.

(continua)


[i] Do latim "religione", a palavra possivelmente se prende ao verbo "religare", ação de ligar. Religião pode, assim, ser definida.
[ii] Ef 2.5
[iii] Is 64.6