Esse é meu último post. Eu os comecei como uma brincadeira, depois
as pessoas foram gostando e fui me animando e as “pequenas histórias” foram crescendo
um pouco e deu nisso (desculpe). Claro que não contei quase nada do que
aconteceu na minha vida, mas já deu, né? Vamos parar por aqui, afinal, apesar de
terem sido 35 posts, temos dezenas de micro histórias neles sendo contadas. Viver
meio século não é pouca coisa e tem sido muito bom vive-lo, na verdade o bom não
foi chegar aqui, mas sim a caminhada. Já sofri e me alegrei nesses anos e levo
comigo o meu maior legado: relacionamentos, pessoas, amigos. Nesses anos eu me diverti estudando, me diverti trabalhando, me diverti andando, me diverti lendo, me diverti lendo andando (desenvolvi grande habilidade nessa área), me diverti vendo paisagens (gosto de olhar pela janela da
barca, ou admirar o Aterro do Flamengo e a baia da Guanabara da Ponte ou de
janelas de prédios. Também gosto de olhar o mar, a natureza com suas montanhas e
águas), me diverti parando a moto na Ponte Rio Niterói para admirar uma lua que
nascia, enorme (não lembro de ter visto uma tão grande e linda como aquela), espero ainda me divertir muito com meus netos (vou ser o “estraga criação”) e ainda pelo o que me resta de vida. Resolvi
contar essas histórias para marcar meu meio século de vida e esse último seria
um resumo desse período, uma declaração sincera do que foi viver esses poucos
anos (sei que os jovens acham muito, mas acreditem, é pouco, passa muito rápido
e nem percebemos eles irem). Resumiriam a vida em fases: a primeira, que foram
objetos da maior parte dessas histórias, foi minha infância, eu fui feliz. Eu me
diverti muito, fazendo o que gostava, tive percalços (uns “poucos”), mas
sobrevivi. Meus pais me deram o que eu precisava para viver e anos tranquilos
num lar em que havia paz. A adolescência foi como a de todos, com muita
instabilidade e extremos, fui injusto com muitos e não tenho muito o que recordar
dessa época. Passei por ela já me preparando para a idade adulta, que estava às
portas e logo conheci minha esposa, que dariam muitos posts só pra falar dela,
então eu resumo: com ela passei a maior parte desse meu meio século; com ela
evolui e aprendi muito; sua alegria foi meu sustento em todos esses anos; tivemos
bons e maus momentos; alegrias e tristezas; vaca gorda (no singular porque foi
somente uma) e magras (muitas) e continuamos juntos. Tivemos nossos dois filhos que só
deram alegrias. Quando crianças enchiam nossa casa de vida e vigor,
adolescentes um saco e agora, indo para idade adulta, são meus amigos. Meu
balanço final? A vida vale à pena ser vivida.
Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
13 abril 2012
06 abril 2012
Short Story XXXIV - Dente
Esse assunto não poderia faltar nas nossas histórias. Hoje
estamos no século XXI, nossos hábitos são muito diferentes das décadas de 50 e
60 do século passado. Nessa época a cultura era das dentaduras, banguelas e
desdentados em geral, tinha até apelidos, tipo 1001, janela etc. Não era como hoje, onde o cuidado dental faz parte dos hábitos da
população, onde 90% da população usam aparelhos ortodônticos (exagerei?
Desculpe, 89% da população). Meus irmão mais velhos que eu têm história
parecida com a minha, acho que só a mais nova escapou dessa sina. Tudo começava
com o dente de leite, ou caiam sozinhos ou seriam arrancados, na marra! No meu
caso eu ia amolecendo o coitado (não sei se eu ou o dente era o coitado). Quando
eu percebia que estava mole o suficiente eu mesmo amarrava um barbante de pão no meu dente e ia,
com o barbante pendurado fora da boca, procurar meu pai para ele puxar, que sem dó, nem
piedade procedia com um forte tranco, a “extração” do mesmo. Chegava a ele com
aquele barbante já babado e ele procurava puxar conversa, falando de um
assunto qualquer ou uma pergunta para nos distrair e quando percebia que já havíamos esquecido, dava o puxão. Quando dávamos
sorte o dente ia no barbante, quando não (não estava mole o suficiente), nossa
cara ia junto com o barbante e dente mesmo que era bom ter ido, ficava. Era uma
sangueira danada! Quando um dente ficava careado então era para ser arrancado
ou extraído, como se diz hoje. Não havia obturações ou tratamento de canal,
apenas quase tão somente extrações, nas chamadas clinicas populares ou no ISS (atual SUS). Uma vez fui pela primeira vez na minha vida num
dentista, logicamente para extrair meu primeiro dente. Minha mãe de deu o
dinheiro e mandou em ir na Clinica Vila Lage, “especializada em extrações”
(leia-se, a mais barata da região). Você chegava e recebia um número e ficava
esperando sua vez. Os sons que viam das salas não eram alvissareiros, mas não
tinha jeito mesmo, não dava para fugir, chegou minha vez e fui para a cadeira, que era regido com
maestria, por uma dentista. Me sentei, esperei um pouco e recebi a anestesia.
Claro que o dente não foi extraído, se não, não seria uma história, apaguei,
simplesmente desmaiei. Me levaram para fora, me abanaram, me deram água para eu
me recuperar e voltei pra casa como o dente estragado. O tempo passou e agora,
com meu amigo Marquinhos, formos a outra clinica “especializada” (ela arrancava
quantos dentes dava, pelo preço de um. Ele chegou a arrancar quatro de uma vez
só!). Me animei, afinal também ia me livrar de quatro ao mesmo tempo! Era minha
esperança, desmaie de novo. Descobri, na marra, que era alérgico (não sei qual é
a descrição técnica correta) a anestesia com ou de adrenalina. Fiquei eu, de novo, desmaiado
na cadeira enquanto procuravam me reanimar. Depois de um tempo acordei e voltei
para casa, novamente com o dente do mesmo jeito.
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