06 abril 2012

Short Story XXXIV - Dente


Esse assunto não poderia faltar nas nossas histórias. Hoje estamos no século XXI, nossos hábitos são muito diferentes das décadas de 50 e 60 do século passado. Nessa época a cultura era das dentaduras, banguelas e desdentados em geral, tinha até apelidos, tipo 1001, janela etc. Não era como hoje, onde o cuidado dental faz parte dos hábitos da população, onde 90% da população usam aparelhos ortodônticos (exagerei? Desculpe, 89% da população). Meus irmão mais velhos que eu têm história parecida com a minha, acho que só a mais nova escapou dessa sina. Tudo começava com o dente de leite, ou caiam sozinhos ou seriam arrancados, na marra! No meu caso eu ia amolecendo o coitado (não sei se eu ou o dente era o coitado). Quando eu percebia que estava mole o suficiente eu mesmo amarrava um barbante de pão no meu dente e ia, com o barbante pendurado fora da boca, procurar meu pai para ele puxar, que sem dó, nem piedade procedia com um forte tranco, a “extração” do mesmo. Chegava a ele com aquele barbante já babado e ele procurava puxar conversa, falando de um assunto qualquer ou uma pergunta para nos distrair e quando percebia que já  havíamos esquecido, dava o puxão. Quando dávamos sorte o dente ia no barbante, quando não (não estava mole o suficiente), nossa cara ia junto com o barbante e dente mesmo que era bom ter ido, ficava. Era uma sangueira danada! Quando um dente ficava careado então era para ser arrancado ou extraído, como se diz hoje. Não havia obturações ou tratamento de canal, apenas quase tão somente extrações, nas chamadas clinicas populares ou no ISS (atual SUS). Uma vez fui pela primeira vez na minha vida num dentista, logicamente para extrair meu primeiro dente. Minha mãe de deu o dinheiro e mandou em ir na Clinica Vila Lage, “especializada em extrações” (leia-se, a mais barata da região). Você chegava e recebia um número e ficava esperando sua vez. Os sons que viam das salas não eram alvissareiros, mas não tinha jeito mesmo, não dava para fugir, chegou minha vez e fui para a cadeira, que era regido com maestria, por uma dentista. Me sentei, esperei um pouco e recebi a anestesia. Claro que o dente não foi extraído, se não, não seria uma história, apaguei, simplesmente desmaiei. Me levaram para fora, me abanaram, me deram água para eu me recuperar e voltei pra casa como o dente estragado. O tempo passou e agora, com meu amigo Marquinhos, formos a outra clinica “especializada” (ela arrancava quantos dentes dava, pelo preço de um. Ele chegou a arrancar quatro de uma vez só!). Me animei, afinal também ia me livrar de quatro ao mesmo tempo! Era minha esperança, desmaie de novo. Descobri, na marra, que era alérgico (não sei qual é a descrição técnica correta) a anestesia com ou de adrenalina. Fiquei eu, de novo, desmaiado na cadeira enquanto procuravam me reanimar. Depois de um tempo acordei e voltei para casa, novamente com o dente do mesmo jeito.

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