Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
06 dezembro 2011
Short Story XX - Capitão
Bem, falar da minha mãe é fácil e esse post irá recordar uma
das suas interessantes facetas. Minha mãe era especial e esse “especial” era o
que ela era, não apenas o que representava. Sei que todas as mães são especiais,
nem tenho a pretensão de compara-la, mas essa era diferente, sempre tinha uma
palavra ou um conselho com profunda simplicidade (ou simplicidade profunda), que clareava uma situação que
se vivia e ajudava a vencer momentos difíceis. Tinha suas frases ou provérbios,
como: “o coração é meu, pode sofrer; o rosto é do próximo, tem de sorrir”,
“cheguei até aqui, termino de chegar”, “não tem tu, vai tu mesmo”, “buscai ao
Senhor enquanto se pode achar”, “ruim com ele, pior sem ele” e assim ia, eram
muitas e muitas, mas hoje não vamos falar disso e sim sobre “arte culinária”, quero
dizer, uma refeição (se é que posso chamar desse nome) que ela fazia para nós
crianças e era o manjar dos deuses, uma grande festa. Eu achava muito, muito
bom e adorava quando ela preparava para nós, mas hoje eu entendo que era
gostoso porque ela estava com a gente, fazendo e nos dando para comer ou na mão
ou diretamente na boca e não uma comida elaborada. O nome dessa iguaria? Capitão.
Para os que não tiveram a oportunidade de viver essa época ou saboreá-lo, vou tentar
explicar. Primeiramente não sei a origem desse nome, até hoje não entendo
porque se chamava assim, e acho que era preparado com as sobras de comidas que
havia na cozinha na hora. Misturava-se o que havia tipo, arroz, feijão, carne,
farinha (realmente não faço ideia do que havia nesse prato, lembro do sabor e
do momento) e era uma delícia. Era preparado e oferecido por ela, como já
disse, na mão (tipo os indianos), não havia talheres, fazíamos uma rodinha e
ela ia preparando os bolinhos e oferecendo para gente. Diria que era o formato
do sushi da culinária japonesa, mas sem a cobertura de peixe ou algas, só o
bolinho. Era uma festa, aquela turma toda saboreando aquele alimento que só ela
sabia fazer. Tenho certeza de que quem teve a oportunidade de comer adorava
(não sei se algum neto provou). Hoje nosso mundo evoluiu e é tudo muito
asséptico, limpo, lavado, quando criança, não. Acho que por isso ninguém ficava
doente à toa, tínhamos muitos anticorpos.
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