Devem estar pensando que sanguessugas são pessoas que gostam
de aproveitar e abusar das pessoas boas, né? Mas não, erraram. Estou falando dos
bichinhos gosmentos e pretos que grudam na pele quando damos o mole de tomarmos
banho onde eles estão e, conforme ela vai sugando nosso sangue, vai crescendo,
crescendo, crescendo, como se fosse uma bexiga de ar, mas com sangue. Quando
moleques nós criávamos muitos bichos, o que pintasse estávamos criando, até
pintos (hehe). Meu pai adorava papagaios e micos e sempre tínhamos um deles ou ambos
em casa. Micos são terríveis, tem uns dentes que parecem navalhas e era só dar
mole e lá ia um pedaço do dedo; papagaio era diferente, esmagava o dedo. O bico
de um papagaio e capaz de quebrar pedra e quando ele pegava nosso dedo...! Só a
graça! Não soltava de jeito nenhum, apertava até furar e sair sangue. Um dos
meus irmãos tinha uma grande criação de ratos, isso mesmo, ratos, dos brancos.
Aquilo multiplicava igual a ratos (rs) e nem sei o que ele fazia com aquele
monte de ratos. Tinha outro que adorava cachorros, que ele mandava lamber suas
perebas das pernas (tínhamos muitas perebas). Imagine, né? E se pegasse raiva?
Tô falando do cachorro, coitado! (rs). Lembro uma cadela gordinha que ele usava
para esses fins, chamava-se bolinha, mas ele tinha muitos outros. Uma vez, outro
irmão, (estou falando de um terceiro diferente, tá? Tenha oito!) trouxe de SP um dobermann.
Era preto e eu que cuidava dele quando ele não estava. Eu levava feijão com
leite, misturados. Nunca entendi porque aquele animal comia aquilo e também levava
angu ou canjiquinha. Nessa época não se falava em ração, cachorro comia nossa
comida mesmo. Esse cachorro mordeu um monte de amigos meus e também minha irmã, sempre na altura
do pescoço, o bicho era predador, queria a jugular. Nesse mundo animal tinha
pena da minha mãe, coitada, mas ela também tinha seus bichos, eram os patos e
as galinhas do vizinho. Nossa casa não tinha quintal e ela tirava uma casquinha
dos animais do vizinho. Ela adorava aqueles animais e sempre cuidava deles,
dando comida e acompanhando seu dia a dia, seus filhotes quando nasciam etc;
até minha filha deu comida para esses patos, chegava e papai já lhe dava um
grande pão molhado para ela dar para eles. Eu criava preás. Preá é como um rato
grande e também se multiplicava como ele. Comecei com um casal e em pouco tempo
tinha vinte e cheguei a ter mais de sessenta. Elas tinham de comer e para isso
eu tinha de colher capim nos terrenos baldios da minha vizinhança. Era muito
chato fazer isso, mas quem mandou ter preás, né? Quando eles começavam a
gritar, minha mãe dizia: “tem de ir pegar capim para os bichos!” e lá ia eu. O
capim que elas gostavam era um que cresciam em lugares pantanosos e haviam
muitos onde hoje é o marimbondo, um “lindo” bairro da minha cidade (onde eu
moro). Esses terrenos pantanosos eram interessantes, pois criavam uma camada,
como se fosse um tapete, em cima da água, e nós andávamos nesse capim
tapete, que era mole e se mexia quando passeávamos nele. Um dia fui
colher meu capim e estava num desses lugares moles, quando minha perna afundou
na agua. A principio não me incomodei e continuei cortando meu capim e, quando
concluí minha colheita, saí do terreno e fui amarrar meu fardo de capim para
levar para minha preás, quando tive a surpresa: preso em minhas pernas haviam
umas vinte sanguessugas grudadas e chupando meu sangue. Já tiraram sanguessuga
da pele? Pois é, não puxar se não ela pode arrebentar. Você tem de tira-las
cuidadosamente, passando uma folha entre a pele e ela até soltar o ferrão.
Fiquei mais de uma hora tirando sanguessuga das minhas pernas. Devem ter sugado
um litro do meu sangue.
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