06 junho 2015

Diálogo com o FB - VIII - Feira

Olá, FB, estive na feira. Como assim, “e o quico?” não posso falar sobre esse dia? Seja mais educado, viu? Bem, como tentava dizer, estive na feira. Se você não sabe eu fui criado na “rua da feira” e adivinha porque tem esse nome? Não responderei. Passei a vida toda nela e só me mudei depois de cinco anos de casado. Lá vendi limão, tentei vender minhas preás, comprei muita xepa quando era mais pobre, isso mesmo, minha mãe só me mandava eu comprar as coisas depois das duas da tarde, fiz carretos e também amigos. Tem o paneleiro, que conserta...? Isso panelas. Esse fica em frente à minha antiga casa. Tem o bananeiro, onde sempre comprava... bananas, o laranjeiro... sem comentários e tinha de comprar a laranja baiana, a que tem um umbigo na bunda. Hoje é diferente, apareço lá de tempos em tempos para comprar minhas frutas e legumes e vou na mesma barraca desde do tempo do pai do atual dono.

O ambiente dessa feira é muito interessante e até divertido, mas tem de fazer parte dele, acho que não vale muito se você for um estranho, tem de conhecer os personagens. Nessa feira tem o Martinho da Vila, isso, da feira, claro. Muito legal ele passando caracterizado, andando como tal, ouvindo os gracejos e brincadeiras dos feirantes e transeuntes e tenho a impressão que ele se acha mesmo o Martinho e segue “...bem devagar, bem devagar, bem devagar, bem devagar, devagarinho...”. Tem o vascaíno, claro, sempre de camisa do Vasco, ouvindo as repetidas piadas do “e aí vice”, “demorou a ganhar o estadual, tá um cheiro de naftalina nessa faixa”, tem o aleijado, desculpe, o senhor com deficiência que vende cuscus, e as chacotas e piadas entre os comerciantes e fregueses, isso, fregues, não cliente.

Na minha barraca são as de sempre, primeiro sou zoado por causa do meu carrinho de feira de oncinha e tenho de ouvir “só tricolor pra usar um carrinho desses”. Pois é, eu comprei esse carrinho para minha esposa, que gosta muito de oncinha, mas esqueci que seria eu quem o usaria, mas faz parte. Depois é a minha vez de reclamar do preço, chamar o feirante de ladrão, aí ele responde que tem de pagar a prestação do Toyota Hilux que ele comprou, que ele não está achando o preço caro, e a compra vai passando. Nessa barraca, como sou VIP, é selecionado os quiabinho como eu gosto, sempre pequenos e verdinhos e o chefe já separou a batata baroa que vende rápido, apesar do preço, depois aquela abóbora Sergipana, as melhores laranjas e um belo cacho de banana.

Termino e venho embora? Não. Como sou freguês antigo sou passado pra trás sempre que surge um freguês novo, que recebe toda atenção e eu vou sendo enrolado, vão passando na minha frente e fico mofando esperando a bendita conta, que não sei como chegou lá, nem quanto me cobrou pelo quilo, nem o peso do que comprei e pago, na confiança. Pra matar o tempo vou na barraca em frente e peço uma tapioca de queijo com banana, açúcar com canela e leite condensado. No verão também tomo uma água de coco ou compro um bolo “caseiro” (não tenho certeza se é a dona quem faz, mas é gostoso), ela sempre me oferece um queijo, mas confesso que acho o queijo meio sinistro e evito comprá-lo, apesar de comê-lo na tapioca.

Para o grand finale temos o último personagem. Para esse tenho de separar uns Reais, o guardador de carro. Acho que ele tem paralisia cerebral, não consegue falar e mal andar, mas está lá todos os sábados, andando meio de lado, procurando uma vaguinha para mim. Essa parte sempre me emociona, vermos que somos todos iguais, com as mesmas emoções e desejos. Ele fala eu não entendo nada, eu reclamo com ele que a vaga é ruim, que ele não merece o gorjeta, ele retruca alguma coisa e assim vamos nós em mais um dia na feira da Rua Dr. Gradim.

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