Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
06 janeiro 2012
Short Story XXIII - Picolé
Algumas historias escrevo a pedido, essa é uma delas. Sempre gostei de trabalhar e ter meu dinheiro, até porque era esse ou nada, assim sempre dava um jeito de ganhar algum. Algumas das minhas histórias citam isso e o que gerava mais receita era vender picolé. Hoje quase não vemos mais os vendedores de picolés nas ruas, vemos é esse iogurte de R$ 0,50, que até gosto de comprar, mas picolé mesmo, não. Havia uma fábrica de picolés perto de minha casa, que fazia grande sucesso e comprávamos lá para vender. Nós tínhamos de ter uma caixa de isopor para começar a vender e isso era a grande dificuldade, ou seja, precisávamos de dinheiro para conseguir ganhar dinheiro. Normalmente nós vendíamos ferro velho (lata, cobre, metais, vidros, papelão etc) que catávamos e assim comprávamos uma caixa pequena, que não dava uma boa renda, mas era um começo e depois íamos trocando e comprando uma caixa maior, que dava para uns 40 ou 50 picolés. Num dia de verão saí vendendo meus picolés, ia pelas ruas gritando, “olha o picolé! Picolé!” e muitas vezes vendíamos numa praia, que ficava ao fundo da Baia da Guanabara, chamada Praia da Magata. Devem estar se perguntado porque “se chamava”, não? É que ela não existe mais, passou uma rodovia por cima e depois construíram um estaleiro no que restou dela, coitada. Mas, nessa época, era uma praia famosa e os pobres gostavam de ir lá, como os piscinões de hoje. Como minha mãe me via nessa luta de andar de sol a sol, cabe ressaltar descalço, comprou para mim um chapéu de palha enorme, como os sombreiros mexicanos (como o da foto), e lá eu saía com meu chapelão, minha caixa de isopor e meus picolés para vender, gritando. Um dia tive uma venda muito especial, fiz quatro viagens e consegui vender uns 200 picolés e estava feliz da vida com minha féria. Como o dia estava terminando e o sol se pondo, achei que, como filho de Deus, merecia um mergulhinho na praia da Magata. Assim cuidadosamente escondi o fruto do meu duro dia de trabalho dentro da minha caixa de isopor e fui me refrescar um pouco e depois ir para casa. Entrei nas águas mornas e aproveitei, fiquei uns minutos, nadando e mergulhando, aproveitando o fim de tarde tão gostoso e voltei para pegar minha caixa de isopor, que me esperava. Eu me vesti e ansiosamente peguei minha caixa para i embora e, para minha surpresa, o dinheiro havia sumido. Fui roubado.
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