Hoje as crianças se “formam” quando terminam a alfabetização
e até para a conclusão do jardim se faz uma linda formatura. Há uns dias estava
vendo no FB a “beca” da filha da minha sobrinha. Uma coisinha linda, uma bequinha
vermelha, pequerrucha, muito legal! No meu tempo não tínhamos toda essa pompa e
circunstância de hoje, mas também tínhamos a nossa e chamava-se “festa do
livro”. Era uma festa na escola, onde os alunos recebiam um livro para celebrar
a alfabetização. Minha mãe tinha por hábito nos colocar numa escola particular
para sermos alfabetizados, depois não, era escola pública mesmo, mas ela tinha
esse carinho até a minha vez, o 6º filho. Depois de mim passaram a sempre
estudar em escola particular, isso porque a situação melhorou um pouco, visto
que pelo menos quatro já tinham ido embora de casa pois casaram. A escolinha que ela me colocou era
na nossa rua mesmo e era na verdade duas salas comerciais que funcionavam como
escola, a turma A e a turma B. O colégio se chamava Externato Olivier o “entra
burro e sai mulher”. Pois é, eram outros tempos, o bullying já começava na
alfabetização. Eu fui um aluno exemplar (hehe) e consegui me formar depois de
muita ajuda da minha mãe para eu conseguir aprender a ler as primeiras letras e
escrever as primeiras palavras e ia me “formar”. Hoje, tempo das impressoras laser
e jato de tinta, xerox etc talvez nem saibam, mas as cópias antigamente eram
tiradas num equipamento chamado mimeógrafo. Já ouviram falar dele? Pois é, era
um rolo, tipo rolo compressor mesmo, que era preso um papel marcado por carbono, e depois recebia uma folha
de papel umedecida em álcool que era prensado nesse rolo e copiava o que se
desejava. Para a formatura a diretora da escola me deu uma folha mimeografada,
como se dizia, com o modelo da beca, que era apenas a parte de cima, pegando
apenas nos ombros e o chapéu (não sei como chama aquele chapéu com um corda
pendura) e levei para minha mãe. Eu, coitado, um molequinho, sem noção nenhuma
continuei estudando, quando chegou o grande dia, o dia da minha formatura. Me
arrumei, me preparei para esse grande dia e minha mãe foi colocar a minha beca
para a minha apresentação, prendeu o desenho do
mimeógrafo no meu bolsinho, que ela havia cuidadosamente recortado com uma
tesoura. Não entendi bem e fui todo serelepe para a escola com a “beca” fixada
com um alfinete no meu bolso. Quando cheguei lá tive uma grande surpresa, todos
os meus coleguinha estavam vestidos com a beca e não com ela recortada e presa
no bolso! A diretora quando viu a situação cuidadosamente foi me levando para
o fundo da classe de forma que ninguém me visse. Todas as crianças
foram sendo chamadas e recebendo seu livro com uma grande salva de palmas, eu,
discretamente recebi o meu, sem palmas ou apresentação. Até hoje tenho dúvida
se minha mãe fez aquilo porque achou que era assim mesmo ou esqueceu de mim.
Não sei se foi por esse motivo, mas nunca tive uma
formatura na minha vida, nem quando conclui a faculdade.
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