Muitos não sabem e vão descobrir agora, mas eu já fui
guitarrista. Isso mesmo, o coroa aqui já foi um Keith
Richards, dos Rolling Stones, e hoje vou contar a história de Frank,
minha primeira e única guitarra. Ela tinha esse nome, pois era a junção de
muitas partes diferente e às vezes muito, mas muito diferente, por isso o
diminutivo nome de Frankenstein. Tudo começou comigo tocando violão, e tenho de abrir um parêntese para eu falar do meu pai, ele
sempre apoiou os filhos em tudo que desejassem fazer, claro, sempre dentro das
suas possibilidades. No caso do violão ele encontrou um irmão da igreja que
tinha um usado e comprou dele parcelado. Depois veio naturalmente um desejo,
como jovem que já fui, de ter uma guitarra. Para quem não sabe também disso,
guitarra é igual a um violão, mesmas posições, mesmos acordes, apenas com
um som e maneira diferente de tocar. Fui conversar com meu pai, que como já disse se prontificou a apoiar e ele soube de uma pessoa que tinha um bojo de guitarra.
Fui parar com ele num buraco, bem na roça em busca desse bojo. Ele foi
conversar com o dono, passou um tempo e ele voltou com o bojo de
guitarra na mão. Estou falando bojo porque sou bonzinho, na verdade ele trazia um
tronco de madeira bruta, áspera, que tinha sim, o desenho de guitarra. Fomos
para casa, eu e o bojo na mão. Fiquei com aquele bojo alguns meses, pensando no
que fazer com ele e fui então correr atrás e consegui com um amigo um braço de
guitarra usado. O braço era tão velho que os trastes (nome dos ferrinhos que
ficam no braço, OK? não estou ofendendo ninguém) eram gastos e tinha valas
feitas pelas cordas que foram tocadas nele por muito e muito tempo. Estava indo
bem, já tinha o bojo bruto e o braço, faltava alinda alguns componentes, como
as ferragens e, logicamente, eram usadas também. (Porque acha que eu a chamava
de Frank?). As ferragens estavam mal, muito mal, descascadas e com uma péssima
aparência, mas consegui uma pessoa que fazia a cromagem. Levei lá e depois de
uns dias voltei com as ferragens novas, lindas, o cara era bom. Estava indo muito bem, claro que já
haviam ido seis meses, e agora não faltava muito para ter minha guitarra, “apenas”
a parte elétrica, a montagem e o acabamento. Fui fazendo um pé de meia, esperei
um pouco e comprei, agora sim, novos os captadores, botões e plugues da
mesma. Só faltava a última parte, montar. Por sorte tinha uma amigo que era
marceneiro e conseguir convence-lo a montá-la para mim. Ele era marceneiro de
móveis e coisas de madeira em geral, não um luthier (pesquisem no Google, não
vou dizer o que é) e, sob minha orientação foi montando e depois começou a dar
o acabamento na madeira, agora sim área que
ele dominava e muito bem. Isso demorou algumas semanas e, num belo dia, ele me
chamou na casa dele, que era na favela do gato (tão pensando que tinha muitos felinos
lá? Tinha mesmo, mas eram gatos de luz, era um imenso amarrado de fios
pendurados, por isso o nome da favela) e me mostrou a minha Frank, linda, o cara era muito bom, ficou
muito boa, funcionava e comecei a usá-la. Foram dias gloriosos, eu e minha guitarra (hehe,
tô brincando, era um tocador medíocre, nunca fui grande coisa), tocando em
eventos diversos. Fiquei com ela e nunca me deixou na mão, até que
tive a brilhante ideia de trocar o braço, que realmente estava muito ruim.
Consegui um outro braço usado e em melhores condições que o outro e eu, ao invés de levar para meu
amigo, fui trocar e essa atitude está no meu panteão das grande
besteiras que já cometi (pois é, eu tenho esse panteão e está sem espaço para novas). Esse
novo braço velho era um pouco diferente do outro, não encaixava perfeitamente
no espaço do antigo, ele era um pouco maior, e eu, ao tentar coloca-lo, forcei o bojo e Frank rachou ao meio. Foi muito triste.
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