Hoje vivemos num mundo melhor, mais evoluído, lutando contra
o preconceito, batalhando pela igualdade e punindo quem não segue essas normas
de convivência, por isso já vou começar o post me defendendo para não apanhar
muito, como apanhei quando contei sobre como víamos a morte no meu tempo.
Quando moleque o mundo não era assim, nossas piadas eram sobre aleijados,
tortinhos, mulheres esquisitas, fanhos, malucos, negros (que nem posso mais
chamar de como chamávamos), pessoas especiais (também não posso mais dizer como
as chamava), portugueses (esses continuam sendo escrachados), papagaios e quaisquer outras
pessoas ou situações que fossem diferentes de nós. Só não sofria bulliyng os
gordos, porque simplesmente quase não existiam crianças gordas, não lembro de
nem uma, se não... ah! iriam sofrer também, com certeza! Era divertido, mas
cruel, reconheço hoje, mas não era assim naquela época. Hoje também, se deixar,
as crianças não seriam diferentes e sim iguaizinhas a nós da década de
70, porque o mesmo crueldade que existia em nós continua existindo nas de hoje também.
Mas chega de filosofia e vamos aos fatos do passado, objeto dessa história.
Como dizia zoávamos qualquer ser ou situação diferente de nós e no nosso bairro
existiam duas anãs, que só de ver percebe-se que são diferentes (hehe), assim a
molecada caia em cima quando elas passavam na rua. Achávamos aquilo o máximo e
nos divertíamos à beça, mas elas não (não sei por que). Um dia quando fazíamos
nossa cota de maldade diária uma delas não aguentou mais, deu meia volta e veio
para onde eu estava (os demais saíram correndo, só o bobo ficou. Talvez fosse o
menor). Estava eu sentado num meio fio, em frente a uma barbearia que existia próximo
à minha casa. Lá trabalhava um velho barbeiro, muito ignorante, que raspava a
nossa cabeça deixando apenas um topete na frente. Conseguem visualizar? Cabeça
raspada com um tufo de cabelo na frente? Era assim o corte de cabelo das
crianças, que chamávamos “corte topetinho”. Depois, quando a criança crescia um
pouco mais, tipo uns 14 anos, o corte evoluía para o que chamávamos “Príncipe
Danilo”, que era basicamente o mesmo corte topetinho, mas com um tufo maior
cobrindo a parte de cima da cabeça. Dizíamos que era colocado um pinico na
cabeça e passava a máquina no que ficava de fora. Era uma máquina de cortar
cabelo manual, não existia elétricas, que ia fazendo inheque, inheque, inheque
ao redor da nossa cabeça. Aquilo grudava no couro cabeludo e tirava pedaços,
nas mãos daquele ignorante (até hoje tenho trauma dele). Voltando a anã, ela
tinha unhas enormes, pintadas de vermelho e muito bem cuidadas e as usou para
agarrar minhas orelhas (que pensei que fossem ser arrancadas). Ela ficou uns cinco
minutos agarradas às minhas orelhas, me dando uma grande lição de moral, sobre
respeito aos diferentes, que nunca mais esqueci. Não lembro minha idade, mas
como ela era maior que eu, devia ter uns oito ou nove anos. Ela está viva, de
vez em quando ainda a veja passando na mesma rua, mas agora sozinha, não sei o
que aconteceu com a outra.
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