Trabalhei muito com meu pai e desde que me entendo por gente.
Lembro de uma vez que estávamos construindo a congregação do Porto Novo, eu,
pequeno, mal aguentava a pá de construção e lutava para encher as latas de
areia. Numa dessas minhas tentativas a pá passou reto e quase atingiu a perna
do meu pai e ele, falou: “ôpa! Longe de quem trabalha e perto de quem come”. Não
me recriminou ou ralhou comigo e isso foi marcante, afinal até hoje lembro, pois
ele poderia ter me chamado a atenção, tipo: “cuidado seu destrambelhado, olha o
que faz”, mas não, apoiou. Eu e meu irmão mais velho estávamos sempre
nessas furadas de obras e similares e tínhamos uma competição entre nós dois para ver quem levava
mais tijolos de uma vez só. Aí um levava 8, o outro levava 10, e depois 12
até que caia no chão e quebrava tudo, uma festa, coisas de moleques. Estava
sempre fazendo coisas legais, tipo, descarregando caminhão, levanto saco de
cimento de 50 kg na cabeça, virando concreto, carregando areia (Ai! Como já
subi morros carregando coisas, era uma formiga. Já ralei, acreditem, mas era
divertido). Também aprendi
muito, pois via como fazia e sempre tive apoio para fazer, mas nunca fui bom,
então nunca passei de ajudante, mas eu aprendi a fazer e tocar obra, que usei
muito nas 39 obras que minha esposa fez na nossa casa (haja puxadinhos!). Mas a
história de hoje é sobre um fato que nem sei como fazer vocês se transportarem
para a situação, pois é muito inusitada, mas vamos lá. A igreja que meu pai era
pastor tinha um telhado, era um telhado enorme, com cerca de 50 metros de
comprimento. Esse telhado cobria a laje da igreja e em cima dessas lajes haviam
vigas, com cerca de um metro, que cortava todo o perímetro a cada 5 mestros.
Assim tínhamos um imenso terraço com essas barreiras, que eram as vigas que sustentavam a laje, e em
cima o telhado de telhas de barros e o madeiramento. Esse “terraço", na verdade um
telhado, era usado para algumas coisas, como por exemplo casa. Pois é, eu e
meus 7 irmão moramos nesse telhado por alguns anos. Como éramos crianças não
nos incomodávamos, mas lembro até hoje do irmão dessa história comendo
pulgas. Pois é, haviam muitas pulgas lá, porque havia muita poeira, e o lençol
amanhecia cheia de bolinha de sangue (nosso, claro) e brincávamos de
captura-las e esmaga-las na unha, mas ele não fazia assim, ele as mordia e comia, mas voltemos. O telhado tinha multiusos e meu pai ia usá-lo para receber uns
pastores que iriam dormir nesse telhado (já tínhamos nos mudado nessas época) e
nos mandou pintar, isso mesmo, pintar o madeiramento do telhado com cal. Sei
que nem sabem o que é isso, mas cal é um produto usado para pintar casas de
pobres e quando cai no olho arde. Podem acreditar, arde e muito. E estávamos os
dois bocós pintando e quando uma gota de cal caia no olhos, nós saíamos correndo,
saltando as barreira (as vigas) até chegar numa torneira e lavar o olho. Que
coisa, né? Hoje eu levaria uma vasilha com água e deixava perto, mas achávamos
divertido sair correndo, saltando e gritando para lavar o olho, enquanto o
outro ficava morrendo de rir. Nesse dia meu irmão ficou com um cêcê terrível e ninguém aguentava, aí meu pai falou, “tenho desodorante no meu gabinete” e o
levou para aplicar no sovaco. Coitado, voltou com todo ardido, meu pai passou loção pós barba no manôlo.
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