05 novembro 2011

Short Story XII - A Ilha


Fui criado num balneário às margens da Baia da Guanabara (rs). Sempre gostei de nadar e estar dentro das suas “límpidas” e mornas águas. Hoje reclamam que ela é poluída, mas no passado era pior, muito pior, pois, além dos esgotos domésticos, que hoje ainda se mantem, haviam todos os dejetos industriais, que diminuiu muito, graças às leis ambientais criadas a partir de uma maior conscientização de que não ia dar do jeito que caminhava. Assim tenho muitas histórias para contar que ocorreram nela, como a micose de pele que peguei nessas citadas águas; a vez que roubaram todo o meu dia de trabalho, fruto da venda de 200 picolés, num dia de sol de verão e muitas horas andando e gritando, “picolé!, olha o picolé!”, com meu chapelão de mexicano que minha mãe me deu; as vezes que fiquei atolado em suas lamas, as pescas de caranguejos, os quase afogamentos etc. E hoje vou contar uma. No interior da Baía da Guanabara existem muitas ilhas e algumas são bem próximas da terra e eu e a molecada gostávamos de nos aventurar nelas. Um dia eu e com uma dessas turmas arrumamos um velho caíco (pesquisem no google o que é), atravessamos o canal que a separava do continente e fomos à chamada "Ilha da Rádio Globo", que como o nome diz, tem a antena da mesma localizada nela. Nossa viagem de ida foi tranquila, fomos bem e nos divertimos muito lá, pescando, mergulhando e nadando nas suas minúsculas plácidas praias de lama, pedra e águas mornas. No final da tarde resolvemos voltar, mas aí não foi tão fácil como ir, pois começou a ventar muito e a arrastar o pequeno barco levando-o para outro lugar e, por mais que nos esforçássemos, o barco não ia para onde queríamos que ele fosse (continente), e ia nos levando mais e mais para dentro da Baía da Guanabara. Foi então que tiver uma maravilhosa ideia, me jogar no mar e ir nadando. Pra quê, a ideia, na teoria, era muito boa, mas não se mostrou tão boa assim, na prática. Logo que caí na água e comecei a dar minhas primeiras braçadas, percebi que havia outro inimigo além do vento que nos atrapalhava: as fortes correntezas que, oculta pelas escuras águas, passavam naquele canal e comecei a ser arrastado por ela e no sentido inverso ao barco, o barco ia para a esquerda da ilha e eu ia sendo levado para a direita. Me esforçava, dava braçadas, tentava nadar por baixo d’água e nada! (literalmente). Simplesmente não conseguia chegar à terra firme e nem voltar para o barco, aonde meus amigos continuavam bravamente a lutar. Minha luta se prolongou por um tempo que parecia uma eternidade e a correnteza foi me levando, me levando para dentro da área restrita duma usina termoelétrica que é quase em frente à ilha. Eu, exausto, consegui me prender e um dos dois grandes tubos de aço que era usado pela usina para levar a água do mar para gerar vapor e energia. Com dificuldade conseguir me grudar no grande tubo, que graças a Deus não estava puxando água naquela hora, senão teria sido sugado para dentro dele (era imenso para mim). Descansei um pouco e fui de “cachorrinho” para a margem. Pensava ter terminado meu sofrimento, mas me aguardava os seguranças da usina que me esperavam para me dar uma lição (como se eu ainda precisasse). Tentei explicar o que havia ocorrido, mas não teve jeito, fui escorraçado para fora da usina.

P.S. Na foto estão marcados a ponta da ilha onde estávamos e para onde fui arrastado.
       Quem quiser saber aonde é click no link: http://g.co/maps/b5qc3

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