21 novembro 2011

Short Story XVI - Pedrinhas


Quando moleque vivíamos na casa dos amigos, éramos aquelas crianças chatas, inconvenientes, que todos evitam e falam mal, davam um dedinho e a gente pegava o braço todo, mas fazer o que? Nossa casa não tinha nada! (Éramos 8 + os pais + as avós, numa casa de dois quartos. Depois ela cresceu, mas quando moleques era dessa forma). Assim só restava a rua e casa dos outros, éramos chamados televizinhos (imagine porque, né? Isso mesmo, não tínhamos TV, nunca tivemos. Minha primeira TV foi quando eu me casei). Alguns vizinhos eram legais e deixavam a gente assistir um pouquinho de TV, abrindo até a janela, e nós ficávamos pendurados nela ou em cima dos muros. Outros fechavam portas e janelas na nossa cara, ou escondiam que tinham TV (eu até entendo, ninguém merecia “aquilo”). Um dia estava na casa de um desses coitados e fui convidado a fazer uma pesca de arrastão na Praia das Pedrinhas, que ficava “próximo” da casa dele (na verdade uns três quilômetros, que fazíamos andando com o arrastão nas costas e mais três para voltar). Como o nome diz, essa praia tinha muitas e muitas pedrinhas que cortavam os nossos pés, mas praia de areia mesmo era muito pouca, bastava entrar um pouco na água e encontrávamos lama, muita lama, mas isso não importava, nós queríamos pegar uns siris ou, quem sabe, uns camarões para saborear naquele nublado dia (diziam que nos dias assim dava mais). Fizemos diversos arrastos, mas a maré não estava pra peixe, ou siri, ou camarão, até que conseguimos pegar um caranguejo azul enorme. Meu amigo, na ânsia de não perdê-lo, visto ser o único conseguido até aquele momento, meteu a mão nele. Pra que! O danado agarrou no dedão da sua mão e não soltava de jeito nenhum, o sangue saía borbulhando do seu dedo, mas o bicho não abria a garra. Tivemos de quebra-la com uma pedra para pode liberta-lo. Eu tinha uns doze anos, ambicioso e acreditava que poderia haver algo além daquele siri azul naquelas “límpidas” águas daquela praia bem ao fundo da Baía da Guanabara e continuamos arrastando. Distraídos fomos indo cada vez pra dentro da água, quando a maré começou a encher e não nos apercebermos. De repente eu tinha água até o nariz e lama até o joelho; atolado pela lama não conseguia sair para respirar. Lutava bravamente, tentando escapar dos dois inimigos, quando me agarrei à madeira do arrastão, usando-o como alavanca e consegui desatolar uma perna, aí mergulhei e usei a perna solta deitada como base no fundo do mar para desatolar a segunda perna e assim conseguir tirar a cabeça para fora da água e pegar um pouco de ar. Foi brabo, mas consegui sair daquele atoleiro molhado e sem nada.

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