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Onde está Wally (eu)? |
Estudei num colégio interno, na verdade um seminário, por
dois anos, ou quase dois anos, pois fui também quase convidado a sair faltando
dois meses para me formar. Quase porque meu pai foi me buscar do “Egito” e do
seu governador, conhecido por Faraó (porque judiava do povo de Deus). Até hoje
tenho dúvida se o período que eu passei por lá foi bom ou foi ruim para mim (quase
sempre acho que foi ruim, mas pode ser que tenha sido bom, vai saber). Era um
lugar feito para te humilhar e te fazer se sentir um lixo, ou, como diziam, “barro amassado
na mão de um oleiro” e assim “Deus poder operar” (vai entender). Eu procurava,
dentro de um limite muito pequeno, me integrar, mas não era bem aceito pela
“comunidade”, era mal visto (injustamente, há de ser registrado. rs). Lembro de
uma vez que um deles, oriundo da região norte, onde trabalhava nos seringais, muito
forte, brincava de agarrar e brigar com outros alunos e tentei entrar na
brincadeira. Pra quê, na mesma hora ele recuou com medo de mim, do alto dos
meus 59 quilos e 1,80 metros (vai entender 2). Tinha uns amigos, tão
sorumbáticos e taciturnos como eu (blog é cultura), e fazíamos tipo uma gangue dos
alijados, dos desenquadrados e dos revoltados (Pelo menos éramos vistos assim - vai entender 3). Eu não tinha muitos motivos para sorrir e assim era o meu dia,
de trabalho e estudo, sonhando em ir em casa uma vez por mês. Neste Seminário, apesar
de pago, éramos obrigados a trabalhar em regime de escala, seja lavando os
banheiros, capinando, cuidando da horta, lavando panelões, cuidando da cozinha,
trabalhando de graça no sítio particular do Faraó, enterrando vaca morta (no
mesmo sítio), arrancando mato de um pasto com a mão (para não estragar o capim,
dizia sabe quem: Faraó!) etc. A comida era racionada e era isso e um capítulo realmente
degradante e humilhante de ver (graças a Deus não estava nessa). Uma vez por
semana era servido ovo e era uma guerra. Era um dia especial e a fila começava
cedo (tipo um show que as pessoas madrugam) e estes primeiros que pegavam o seu bandejão iam
comer em pé, de novo na fila do rango, para pegar algum resto de ovo que tenha sobrado
(ou não) e era apenas a metade de um ovo! O que tinha em fartura eram repolho e
chá. Diziam na rádio corredor que havia alguma coisa naquele chá, mas nunca foi
provado, mas achávamos estranho tanto chá, não havia café, e éramos
incentivados a toma-lo, o que nos deixava ainda mais desconfiados. O café da
manhã era uma grande caneca de chá com uns pingos de leite para “sujar” o chá
ou o leite. O leite era muito, muito racionado e não adiantava voltar para a
fila tentando pegar mais um pouco do resto, não davam. A comida era ruim, muito ruim,
feita pelos próprios estudantes e os alunos mais duros dava dó, ou comiam
aquilo ou morriam de fome. Teve um que foi internado por inanição, porque
simplesmente não conseguia comer aquela gororoba que chamavam de comida e quem
não tinha um dinheirinho pra comprar um pão velho, só restava a fome ou a
morte. Eu era duro, mas nem tanto, fazia uma vaquinha com meus amigos
sorumbáticos e comprávamos um litro de leite e colocava para esquentar num “rabo
quente” e bebíamos no intervalo das aulas puro ou com groselha. Uma vez comprei
uma garrafa de groselha só para mim e guardei no meu quarto, mas fui observando que o nível
caía, mesmo eu não bebendo, e desconfiei que estava recebendo a visita do
alheio, então tive uma ideia, peguei um vidro mercúrio cromo, dilui em água,
coloquei na garrafa vazia de groselha e deixei aonde eu a guardava. Quando
voltei da aula fui olhar minha "groselha" e para minha surpresa a garrafa estava
pela metade! O amigo do alheio tinha me
visitado enquanto estava em aula bebido mercúrio cromo! Foi terrível, pensei
que ele fosse morrer, mas não, descobri que beber mercúrio cromo não mata, pelo
menos um eu sei que um tá bem vivo.
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