Como dizia minha mãe, vivíamos “soltos pelos pastos” (era
assim que ser referia à forma como fomos criados, ou seja, na rua). Lembro
muito dos seus gritos nos chamando lá de casa: "Lieeeeziooo”, “Lieeeeeelllllllll”, “Dileeeeeiiiiii”, para voltarmos para casa (o grito ia longe, parecia uma araponga)
e era assim que éramos chamados, ou nos chamávamos, pois, apesar do nome de todos os 8
filhos começarem com a letra “E”’, não pronunciávamos essa letra (que ironia,
não?), era: Dilane, Dilei, Liel, Liézio, Lezer, Deí etc. Nosso parque de
diversões era a rua e sempre tínhamos muita coisa pra fazer nela. Eram muitas as
brincadeiras, como: Pique (todos conhecem), com suas diversas variações, “pique
tá”, “pique ajuda”, “pique alto”, “pique baixo”, “pique cola” etc; garrafão,
esse vou ter de explicar um pouco. Garrafão, como o nome diz, era uma imensa vasilha,
tipo uma garrafa gigante, que desenhávamos na rua de barro. Era desenhado com
os pés, raspando-o no chão, ou riscado com uma vara. Era tipo um pique, só que
acontecia em volta dessa figura desenhada. As regras eram: um escolhido tinha de pegar os incautos, ou os mais arrojados,
e quando pego ou cometesse alguma infração, era espancado até conseguir
alcançar um ponto definido previamente (normalmente bem longe pra apanhar
muito). Era possível entrar e sair do garrafão, mas somente pela boca, porém os
perseguidos podiam sair pelo fundo do garrafão (num pé só), o perseguidor, não. Os
perseguidos podiam “cortar” de um lado ao outro dessa figura, só que de novo apenas com um pé (pépé, como chamávamos). Se colocasse os dois pés ou mesmo tocasse o chão, pisar na linha, ou ser pego, o pau cantava até conseguir alcançar o
ponto definido, agora devidamente dificultado pelos demais para apanhar mais,
obstruindo o caminho. Divertido, bati e apanhei muito brincando de garrafão.
Tinha a “Bandeirinha”, que muitos conhecem, queimado (comum), amarelinha, pião, bola de gude (búlica, triângulo, mata mata, à vera, à brinca e outros tipos), cafifa etc,
mas havia uma diversão adicional para a garotada da vizinhança, um velho pequeno
caminhão que estava enguiçado a anos próximo à nossa casa. Lá nos brincávamos
de dirigir no seu velho e grande volante, pulávamos nos bancos de palha e molas
cheios de pulgas e na carroceria quase sempre tinha um “evento”. Um dia tivemos
uma grande ideia, tirar gasolina do velho tanque para fazermos uma fogueira.
Arrumamos uma garrafa de vidro e uma mangueira e fomos à luta. Enfiamos a
borracha no tanque e ficamos tentando tirar o precioso combustível, mas não
saía, estava difícil. Tentava um, tentava outro, mas todos moleques e burros, nada
de conseguir, aí eu radicalizei, dei uma grande sugada e um liquido marrom e
fedorento saiu, mas como puxei com forca excessiva não consegui conte-lo e
engoli uma grande quantidade dela, foi terrível, a grande golada entrou
garganta a dentro queimando e caiu pesado no estomago. Achei que ia vomitar,
fiquei desesperado, mas nada de conseguir expulsar aquele troço de dentro de
mim. Com minha “super sugada” o líquido continuou a sair e pude observar melhor
o que eu engoli, não havia mais gasolina naquele tanque, apenas restos imundos de
combustíveis, agua e ferrugem: sobrevivi.
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