11 novembro 2011

Short Story XIII - Morte


Hoje, nesse mundo chato e politicamente correto, falar que matava animais soa mal, ou mau, muito mal, mas não era assim quando moleque, matar era entretenimento. Lembro de quando estávamos caçando passarinhos pra comer, isso mesmo, pra comer (horrível ouvir isso, né?), mas vamos viver a situação: éramos uns oito moleques “caçando”, na verdade tentando, pois nada conseguíamos pegar porque éramos incompetentes, simplesmente nada acontecia, os pássaros eram mais espertos que nós e foi quando um bando de andorinhas passou voando sobre nossas cabeças e eu, que já estava com minha arma engatilhada  (uma seta, ou estilingue, para os de fora), atirei para cima e uma pobre coitada caiu aos nossos pés morta. Foi uma festa, mas foi também uma guerra para dividir UM  passarinho assado, ou melhor, frito. Hoje me parece até engraçado: “a coxa é minha”, “eu que matei, quero o peito”, “eu também quero um pedaço” e assim ia a distribuição do “enorme” corpo da andorinha morta. Numa outra ocasião eu estava na casa de um amigo e a mãe dele pediu para matarmos uns pombos para comermos no almoço. Aí não prestou, eu amarelei. Para quem não sabe, mata-se um pombo estrangulando-o, girando o pescoço dele até sufocar e morrer, ou arrancar logo a cabeça, para quem tem mais coragem. Eu não conseguia completar o serviço, ameaçava girar, girava um pouco, dava uma volta no pescoço do coitado e voltava, não completava o serviço e assim o pobre pombo sofria mais (até hoje lembro dos seus olhos vermelhos, esbugalhados, olhando para mim, querendo sair da órbita) e não morria. O assunto foi resolvido quando a mãe dele veio com uma faca e cortou as cabeças e ponto final, comemos os coitados. Um dos meus irmãos tinha um requinte especial de crueldade com os animais, enterrava-os vivos. O processo era simples, cavava-se um buraco e colocava o escolhido dentro de buraco (no caso um gato), claro com um “pouco” de resistência e depois jogava terra em cima e ficava observado. Quando o bicho se mexia revolvendo a terra querendo sair, ele, juntamente com um amigo, socava a terra, pisava e pulava em cima e ficava observando de novo; se novamente a terra mexia o processo se repetia até parar (sabem porque, né?). Quando garoto havia um mico um nossa casa que morreu de saudades de outro dos meus irmãos, que era o dono  e quem cuidava dele, e eu queria vender o corpo para um curtume, só que estava fechado e tive de esperar abrir. O bicho ficou dentro do congelador por mais de um mês  (imagine, misturado com alimentos) até eu o vender para o curtume. Acho que vendi pelo o que seria R$ 1,00 hoje, pois não deu nem pra comprar nem uma mariola (pesquisem no Google, não vou dizer o que é). Também era comum minha mãe comprar ou ganhar galinhas vivas, que eram mortas com nossa ajuda. Segurávamos o corpo da escolhida, que tinha o pescoço cortado, até parar de se mexer (se escapasse era uma sujeira danada de sangue e a mãe ficava falando, “não solta, não solta, não solta!”), depois era jogada numa panela com água fervente para ser depenada, às vezes ainda se mexendo (ela dizia que eram espasmos, mas acho que ainda estava viva). Matávamos porco com uma fina faca enfiando-a debaixo do braço e atingindo o coração (até ouço os grunhidos dos coitados), bezerros eram mortos com uma marretada na cabeça (que apenas ficava atordoado e depois o serviço era finalizado com um facão) ou coelhos (tão bonitinhos, né?). A morte era natural, como tem de ser.

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