02 novembro 2011

Short Story XI - A Caixa


Já era velho, por favor, não perguntem a idade, afinal vou fazer meio século! Estava no telhado consertando a boia da caixa d’água que havia quebrada na noite anterior, inundado a minha casa (paredes, teto, quintal, janelas de madeira..., tudo molhado). Sou o tipo “faz tudo”, trabalhei em obras com meu pai e meu irmão que me deram habilidades básicas para construir e reformar. Minha casa, da concepção, projeto, construção, instalações elétrica, água e esgoto, pintura etc tem minhas mãos, meu suor e muitas e muitas vezes, meu sangue (sempre me machuco quando vou fazer algo, já deixo pronto do Polvidine à gaze), mas não é sobre isso que quero falar. Como dizia, consertava a boia da caixa d’água. Era uma caixa grande e redonda, com quase 2.000 litros, alta, com um buraco redondo na parte de cima, que quase encostava no telhado do meu terraço, de fibra, com uma tampa de rosquear (tipo um parafuso gigante), e, por esse buraco, passava um pouco mais que o meu corpo. A caixa estava cheia, pois não podia esvazia-la, porque estava havendo um evento em minha casa e não podia ficar sem água. Eu tinha de trocar a boia e tentava de diversas maneiras alcançar a quebrada, a fim de colocar a nova. Então, como meus braços não alcançava a danada tive uma ideia, enfiar um pouco a cabeça dentro da caixa (havia um pequeno vão livre, sem água) para assim ter uma maior amplitude e alcançar a boia velha, mas não conseguia concluir o trabalho, estava muito dura, não saía de jeito nenhum, assim enfiei um pouco do tronco para dentro da caixa, deixando o resto do corpo pra fora fazendo um pêndulo para me equilibrar e me manter fora da caixa. Rodava, rosqueava, pegava uma ou outra ferramenta, contorcia meu corpo tentando alcançar e consertar a bendita quando subitamente me desequilibrei e caí de cabeça para baixo dentro da caixa. De repente me vi com todo o meu tronco enfiado dentro d’água e de cabeça para baixo, apenas com as pernas de fora. Lutava para sair, mas o mesmo corpo, que antes me equilibrava fazendo um pêndulo e me mantendo do lado de fora da caixa, agora me empurrava pra dentro dela, me impedindo de sair. Me esforçava tentando sair, me virava no pouco espaço que tinha, mas como era muito profunda não conseguia me pôr para fora, mesmo esticando meus braços não era suficiente. O tempo foi passando e o ar começava a me faltar e não conseguia sair. Tentei então terminar de entrar na caixa e assim me levantar, mas não conseguia, não havia espaço suficiente para esse movimento e eu nem entrava, nem saía. O desespero começou a tomar conta de mim, visto que o ar fazia cada vez mais falta, comecei a imaginar o pior, eu, sozinho, no alto de uma pequena laje, colado a um telhado, um lugar de difícil acesso, que nem dava pra me ver, apenas as pernas de fora, morto afogado, quando de repente saí, inexplicavelmente saí. Vivi um milagre, Deus poupou a minha vida (de novo).

P.S. Imagem igual a da caixa descrita na história.

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