18 outubro 2011

Short Story III - A Carretilha

Tinha cerca de 17, 18 anos. Vivíamos o tempo da ditadura, com o presidente dos cavalos, João Figueiredo. Era o zelador duma igreja e tinha um objetivo, ser o melhor zelador que aquela igreja já teve. Assim encerava os banheiros, que era de ladrilhos vermelhos; lavava o branco chão de cimento das minúsculas salas e as encerava com cera incolor; passava óleo de Peroba nos 70 bancos de imbuia; lavava a igreja, juntamente com meu amigo PB, eu era o RR, empilhando os 70 bancos nas paredes em pilhas de quatro etc. No fim fracassei e fui considerado um dos piores zeladores que a igreja já teve, eram muitas as reclamações. Também eram 700 pessoas sujando e somente eu limpando! Fazer o quê. Fui derrotado. Mas não é sobre isso que quero falar. Como toda boa igreja, ela vivia em obras e, na parte dos fundos, havia uma comprida corda, presa a uma carretilha, que era usada para levar os materiais de construção para o 3º andar. Eu, quando passei pela corda, tive uma brilhante ideia, ir me levantando, eu mesmo, na corda e ter uma visão privilegiada do cenário tão “bucólico”. Assim prendi meu pé no gancho que estava numa ponta da corda e fui me puxando na outra extremidade. Foi apenas uma fração de segundos, assim que meu pé descolocou do chão, meu tronco levantou o resto do corpo e eu me estatelei com as costas no chão. Foi um momento duplamente doloroso, uma pela dor nas costas em si e outra pelo ar que se recusava a entrar nos meus pulmões. O ar não vinha e eu já desesperado procurava de alguma maneira me colocar de pé, mas a dor era muita, e tentava fazer algo que fizesse com que esse precioso bem entrasse no meu organismo. Foi terrível, vi a morte, quando uma baforada de ar fresco conseguiu entrar.

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