Não quero chorar miséria, apenas contar histórias, por isso tenho de falar, éramos duros. Não tínhamos brinquedos e precisava nos virar e usar nossa imaginação e habilidades. Assim estávamos sempre inventando e construindo nossos brinquedos, como patinetes feitos de rodas de bilhas ou “carrinho de rolimã” (era assim que chamávamos, feitos com rolamentos usados). Haviam duas versões desses patinetes, um para andar sentado, que eram o terror dos dedões, pois passavam por cima dos coitados quando estávamos remando com as mãos no chão, dando impulso para ele andar, e uma versão para andar em pé, parecido com os modernos patinetes de alumínio de hoje, mas como as rodinhas eram de ferro e muito pequenas, quando uma pedra entrava embaixo da roda nós voávamos por cima de “guidom”. Tudo muito precário, feitos de madeira e pregos, construídos por nós mesmos, crianças, sem nenhuma supervisão de adultos, um caos! Mas um dia tudo mudou, nós achamos no lixo um quadriciclo. Ele já era velho e enferrujado, sem a proteção na empunhadura da alavanca e com pedaços de ferro meio soltos. Tinha quatro rodinhas (por isso o nome), um banco de metal amassado, sem encosto, na parte atrás e era dirigido pelos pés (as duas rodas da frente giravam num eixo permitindo virar para esquerda e direita). Esse brinquedo era o máximo para nós e tocávamos o zaraia com ele. Íamos sempre na velocidade máxima, com um sentado (gritando o tempo todo, “mais rápido, mais rápido!”) e outro atrás empurrando como se fosse o motor. O problema era a alavanca que foi construída para fazer o carro andar, como se fosse pedal de uma bicicleta, só que com as mãos pois, como tinha um “motor” atrás empurrando o carrinho, aquela alavanca ficava solta, indo pra trás e pra frente se movendo freneticamente sozinha, movida pela engrenagem do carrinho. Pois bem, uma vez eu ia de motor para meu irmão caçula, que ia sentando e “dirigindo” o possante com os pés, quando, ao passarmos por uma protuberância na calçada, subimos e capotamos. Voamos nós três, eu ele e o trambolho. Foi uma confusão danada e eu, com dificuldade, consegui me desvencilhar do carrinho e do meu irmão que estava em cima de mim, mas não conseguir tirar o brinquedo, a alavanca tinha encravado na virilha dele. Um pedaço de ferro velho e enferrujado estava enfiado dentro do meu irmão e eu não sabia o que fazer. Um conhecido viu aquela situação e ajudou, “extraiu” o ferro cuidadosamente e o levou para o pronto socorro municipal (já éramos conhecidos lá). Levou doze pontos, quase ganhou na Loteria Esportiva.
Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
18 outubro 2011
Short Story VII - O Quadriciclo
Não quero chorar miséria, apenas contar histórias, por isso tenho de falar, éramos duros. Não tínhamos brinquedos e precisava nos virar e usar nossa imaginação e habilidades. Assim estávamos sempre inventando e construindo nossos brinquedos, como patinetes feitos de rodas de bilhas ou “carrinho de rolimã” (era assim que chamávamos, feitos com rolamentos usados). Haviam duas versões desses patinetes, um para andar sentado, que eram o terror dos dedões, pois passavam por cima dos coitados quando estávamos remando com as mãos no chão, dando impulso para ele andar, e uma versão para andar em pé, parecido com os modernos patinetes de alumínio de hoje, mas como as rodinhas eram de ferro e muito pequenas, quando uma pedra entrava embaixo da roda nós voávamos por cima de “guidom”. Tudo muito precário, feitos de madeira e pregos, construídos por nós mesmos, crianças, sem nenhuma supervisão de adultos, um caos! Mas um dia tudo mudou, nós achamos no lixo um quadriciclo. Ele já era velho e enferrujado, sem a proteção na empunhadura da alavanca e com pedaços de ferro meio soltos. Tinha quatro rodinhas (por isso o nome), um banco de metal amassado, sem encosto, na parte atrás e era dirigido pelos pés (as duas rodas da frente giravam num eixo permitindo virar para esquerda e direita). Esse brinquedo era o máximo para nós e tocávamos o zaraia com ele. Íamos sempre na velocidade máxima, com um sentado (gritando o tempo todo, “mais rápido, mais rápido!”) e outro atrás empurrando como se fosse o motor. O problema era a alavanca que foi construída para fazer o carro andar, como se fosse pedal de uma bicicleta, só que com as mãos pois, como tinha um “motor” atrás empurrando o carrinho, aquela alavanca ficava solta, indo pra trás e pra frente se movendo freneticamente sozinha, movida pela engrenagem do carrinho. Pois bem, uma vez eu ia de motor para meu irmão caçula, que ia sentando e “dirigindo” o possante com os pés, quando, ao passarmos por uma protuberância na calçada, subimos e capotamos. Voamos nós três, eu ele e o trambolho. Foi uma confusão danada e eu, com dificuldade, consegui me desvencilhar do carrinho e do meu irmão que estava em cima de mim, mas não conseguir tirar o brinquedo, a alavanca tinha encravado na virilha dele. Um pedaço de ferro velho e enferrujado estava enfiado dentro do meu irmão e eu não sabia o que fazer. Um conhecido viu aquela situação e ajudou, “extraiu” o ferro cuidadosamente e o levou para o pronto socorro municipal (já éramos conhecidos lá). Levou doze pontos, quase ganhou na Loteria Esportiva.
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Um comentário:
Parabens meu amigo ,gosto das sua hitorias .Pode escrever ti dou a maior força.Tenha tambem texto inspiradores para nós leitores.A paz
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