Meus filhos têm curiosidade de conhecer as histórias que meu pai contava e eu tento contar uma ou outra, mas percebo que não é a mesma coisa. Assim, a pedidos, resolvi registrar algumas situações vividas nesse meio século de vida. Quem sabe um dos meus netos não queiram conhecer, né?
18 outubro 2011
Short Story V - Cabeça
Tenho um irmão que, quando pequeno, tinha um
comportamento bem peculiar pra dormir. Ele tinha alguns poucos apelidos como Cabeça, Orelha, Topo Gigio, Comprido, Cabeção, Didio, Pau de Virar Tripa (não
sei por que tinha esses apelidos) e muitos outros mais, ou menos interessantes.
Moleque
inteligente, tipo Peter Parker, the Spider Man, “Brilliant, but lazy”. Era um grande cara, excelente em quase tudo que
fazíamos como crianças, como, jogar pião, soltar cafifas, jogar bolas de gude,
etc. Vivíamos soltos no pasto, nas casas dos amigos, andando de bicicleta
(emprestada, claro. Não tínhamos a nossa), brincando de garrafão (não vou
explicar o que é), bandeirinha (também não rs) e outras mais. Andávamos
abraçados pelas aprazíveis ruas da minha cidade (a dos terrenos baldios com
lixo). Hoje seriamos chamados de boiolas, mas era um outro tempo, em que
amarrávamos cachorro com linguiça e menos malícia que hoje. Uma vez conheci seu
lado protetor. Um moleque tentou pegar minha cafifa. Ah, amigo, não prestou!
Ele veio em minha defesa e os dois rolaram no chão na rua chamada “de trás”.
Ele agarrado, batia na cabeça do coitado com uma lata, enquanto espremia a cara
dele numa cerca de arame farpado. Sinistro! Nunca mais esqueci essa imagem. Mas
o legal mesmo era quando ele ia dormir. Todos têm uma técnica, uma forma de
relaxar para dormir, hoje eu ouço música, alguns veem televisão, meu pai ouvia
rádio alto (coitada da minha mãe), a CBN e outros pensam em coisas agradáveis,
como um bonito jardim, cavalos cavalgando, ou flores, finalmente tem o que
tomam remédio mesmo (como Michael Jackson). Ele não, ele era um “pouco”
diferente. Sua preparação para relaxar era balançar a cabeça. Colocava uma das
mãos contornando o pescoço, passando por uma das orelhas, flexionando o
cotovelo, e ia então usando o braço flexionado como uma alavanca para ajudar a
balançar a “pequena” cabeça para esquerda e para direita, num movimento
contínuo e rápido. Devem estar pensando, doido! Estão enganados. Ele não
balançava a cabeça simplesmente como um doido, tinha todo um repertório
musical, no caso a imitação da banda de música da igreja, que tinha o sugestivo
nome de “furiosa”, e ele “tocava” os mais variados hinos da Harpa com a boca,
como “Os guerreiros se preparam...”, “Deus prometeu com certeza...”, “Nós
abrimos, este culto...”, etc com o som original dos instrumentos, tipo o som do
trombone, o som do saxofone, o som do pistom etc.. Não me lembro do som da tuba
e do bumbo, que seria o ápice. Hilário! Só vendo pra crer. No princípio
tínhamos medo, depois nos acostumamos. Era um maluco beleza.
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